3 de julho de 2010

Histórias do futebol

O Almeida era uma pessoa simples da pequena cidade de Vilalegre, pequeno município do interior do estado de São Paulo.
O Almeida apesar da sua modéstia tinha um sonho, ser conhecido em sua cidade e região, ele daria qualquer coisa para sair na rua e ser reconhecido pelas pessoas, e ele contava com o futebol para realizar esse sonho.
Um sonho que seria até possível de se realizar se o Almeida não resolvesse ser juiz, juiz não "árbitro de futebol" como ele didaticamente frisava.
Pois é, esse era o Almeida. Ele até que era um bom árbitro, sempre imparcial e rígido quanto as regras do nobre esporte bretão. E a cidade de Vilalegre tinha um time que amargava há mais de vinte anos a sexta divisão do futebol paulista era o famoso "Leão do Noroeste". Diga-se famoso pelo fato de sempre quase conseguir subir de divisão e nunca fazê-lo realmente.
Mas nosso personagem tinha outro sonho além de ser famoso, o coração do Almeida batia mais forte quando ele encontrava na rua a Arminta, uma moça muito recatada, tímida e dona de uma beleza que era maior que qualquer tesouro que pudesse existir na face da terra.
O único impecílio para Almeida realizar esse outro sonho de namorar com sua paixão desde a mais tenra idade era o Valter Nei, noivo de Arminta e artilheiro e craque do Grêmio Vilalegrense FC, o já citado famoso "Leão do Noroeste".
Valter Nei que neste ano estava mais afiado ainda na pontaria, e seus gols estavam levando o "Leão do Noroeste" para a tão sonhada ascensão. O jogo que levaria esste fato à realidade seria realizado contra o Buritamense EC, time da vizinha cidade de Buritama.
E o árbitro escolhido para apitar o jogo era justamente o Almeida.
Na véspera do jogo a cidade ficou sabendo que seu herói local "Valter Nei" estava de contrato assinado com um grande time da capital, e logo que o campeonato acabasse ele se mudaria de Vilalegre levando consigo sua noiva que seria promovida para a categoria de esposa.
Esse fato deixou Almeida profundamente triste, ele perderia para sempre sua paixão. Mas ele deixou a tristeza para lá, por enquanto ele devia se concentrar na sua missão no dia seguinte.
A cidade amanheceu toda em festa, uma vez que um empate contra o Buritamense já daria a tão sonhada ascensão ao time da cidade. O jogo transcorreu sem problemas até os quarenta e três minutos do segundo tempo e o placar estava em zero a zero, resultado que classificava o "Leão do Noroeste". O Almeida estava mais rigoroso do que nunca.
Mas o destino quis dar sua ajuda, o atacante do Buritamense recebeu uma entrada violenta do zagueiro do Vilalegrense perto da área, mas o Almeida marcou a penalidade máxima. A torcida ficou calada, ainda mais quando o mesmo atacante marcou o gol. O resultado classificava o Buritamense.
Valter Nei pegou a bola e chamou para si a responsabilidade, o Almeida avisou que faltava um minuto e meio para ele encerrar a partida.
Valter Nei combinou com Pedro Caroço a jogada que fariam, essa jogada era mortal e muitos dos gols de Valter Nei surgiram dela. Era a única chance que eles tinham para empatar o jogo e novamente garantir a classificação.
O Almeita apitou, rolaram a bola para Pedro Caroço que enfiou a bola para Valter Nei que já estava quase de frente ao goleiro, ele deu um chute sem deixar a bola bater no chão, um verdadeiro foguete, a bola bateu no travessão depois bateu dentro do gol e saiu vindo parar no pé do zagueiro do Buritamense que tratou de mandá-la para fora do estádio.
Todo mundo viu que foi gol, o goleiro viu que foi gol, Valter Nei viu que foi gol, até o pipoqueiro que estava na arquibancada viu que foi gol, mas o Almeida não viu...
No momento em que Valter Nei chutou a bola, Almeida estava olhando para Arminta que estava assistindo o jogo. Almeida não estava vendo mais nada além de Arminta, e quando ele saiu de seu transe amoroso ele viu a bola indo em direção ao zagueiro e este a isolando.
Então Almeida apitou o fim do jogo e mais uma vez o "Leão do Noroeste" quase subiu de divisão.
Depois de mais esse fiasco, passado a ressaca a vida ia vagarosamente voltando ao normal. Valter Nei se casou com a Arminta e se mudou para a capital. O time de Vilalegre estava se preparando novamente para tentar subir de divisão e o Almeida finalmente realizou seu sonho de ser famoso e ser cumprimentado nas ruas. Não na sua querida Vilalegre de onde ele teve de se mudar depois de ser quase apedrejado pelos raivosos torcedores do "Leão do Noroeste", mas em Buritama onde ele se tornou o herói local. Diz-se nas rodas de fofocas das duas cidades que na verdade o Almeida viu que foi gol mas, quis se vingar do Valter Nei por ele ter-lhe roubado a Arminta.

                                   =-=-=-=-=-=-=

nota: Esta crônica é uma obra de ficção bem como seus personagens e cidades.

 

Nenhum comentário: