24 de outubro de 2009

Conto (ou a tentativa de escrever um)

Um copo de água e meio comprimido de Lexotan.


O que eu admiro em certos escritores é a capacidade que eles tem de passar para o papel suas idéias com certa facilidade, também se não fosse assim eles teriam uma outra profissão. Eu por mais que venho tentando, me esforçando para tornar esse processo natural e orgânico não tenho obtido os resultados que espero.
Eu devo esse fracasso em parte ao meu, como vou explicar sem parecer que sou maluco... Vá lá, ao meu Daimon, isso mesmo aquela vozinha (não confundir com avozinha) interior que tanto atormentou Sócrates e Platão. Se bem que eu acho que Platão era o Daimon de Sócrates. Ou como num exemplo mais lúdico o Grilo Falante do Pinócchio. Alguns escritores se dão bem com seus Daimons a exemplo do Fernando Pessoa e seus heterônimos.
Mas comigo o problema é mais sério às vezes passo horas em acalorada discussão comigo mesmo, quer dizer com o meu Daimon, a nossa relação é similar à história do Pinócchio, eu sou emoção e impulsividade, meu “amigo invisível” é razão pura e mede as consequências dos atos a longo prazo, pondera os prós e os contras procurando o melhor meio de agir, mas aí já é tarde, a maioria das vezes eu já agi sem pensar muito e já me estrepei todo. É por causa deste conflitro inteiror que não consigo escrever facilmente, aliás, não conseguia porque aconteceu algo dias atrás que eu ainda não consegui entender e quem dirá explicar.
Comecei a encontrar por todo o lado pequenos bilhetes com dicas de textos e às vezes até textos inteiros já escritos, como os textos estavam escritos com a minha letra julguei ser eu mesmo o autor, mesmo sem saber como os havia escritos talvez algo como num transe anímico-sonambólico sei lá. Mas os bilhetes começaram a mudar de tom, não vinham mais dicas e sim críticas dirigidas a mim, exigindo mudanças radicais em meu modo de vida, de meu comportamento, de postura etc...
Foi então que eu percebi que meu Daimon estava controlando muito mais de mim do que eu mesmo, não sei como ele encontrou um caminho para fora da minha consciência e descobriu a chave de liga-desliga do meu subconsciente e já estava quase tomando o poder.
Agora eu vou tomar as providências necessárias para contê-lo e estabelecer o mestre (que serei eu, é claro) antes que eu acorde em algum lugar estranho com o corpo todo tatuado ou pior, casado com alguém.
Acho que já ta na hora de aumentar a dose de Lexotan!

PS. Esse conto é obra de ficção, nem o autor nem seus Daimons usam ou recomendam o uso de drogas lícitas ou ilícitas.

Um comentário:

Lara disse...

Muuuuuuuuuuuuuuuuuuuito bom!!!!!!!!!!!