27 de outubro de 2009

Delírios

Alois A. Guerra

O fato que vou contar agora mostra o quão sugestionáveis nós somos, algumas décadas atrás virou moda entre os bebuns de plantão a história do delirium tremens que é uma psicose causada pela abstinência ou suspensão do uso de drogas ou medicamentos freqüentemente associada ao alcoolismo, em outras palavras a pessoa que enchia a cara frequentemente chegava a um estado de embriagues tamanha que começava a ver animais rastejando à sua volta, começava com insetos como moscas, larvas e formigas depois com o passar do tempo os animais iam aumentando junto com o delírio e o final era a morte dolorosa.
Eu e o Cerov sempre saíamos fazendo a nossa Via crucis de bar em bar bebendo até chegar ao ponto final o bar do Fernandão, onde se reunia toda a nossa turma de bons amigos para uma boa conversa e uns drinques.
Mas um dia uns dos nossos amigos resolveu sacanear a turma. Lá pelas tantas quando todo mundo já estava caindo pelas tabelas, o safado soltou um coelho que ele havia previamente tingido de cor de rosa, o coelho foi andando pelo balcão no meio dos bêbados e ninguém falou nada, dias depois esse "amigo-da-onça" veio dizer pra galera que aquilo tudo fazia parte de uma pesquisa para seu curso de psicologia, mas no dia que ele soltou o maldito coelho ele ficou bem quietinho no fundo do bar rindo.
É claro que ninguém falou que tinha um coelho cor de rosa em cima do balcão, com as notícias sobre o tal do delirium tremens, quem falasse: “Olha um coelho cor de rosa!” ia direto pro hospício.
Eu comecei a dar uma indiretas no pessoal que estava a minha volta para saber se alguém mais estava vendo o coelho, além de mim é claro.
Então perguntei pro Cerov:
- Você não acha que o bar está diferente hoje?
- Não, tá tudo normal.
- Tem certeza? (Comecei a ficar preocupado)
- Tenho. Tá tudo sussa.
Então resolvi ir embora, o Cerov veio comigo. Fomos andando meio sem rumo, mas, ao dobrar uma esquina meu coração quase parou.
Demos de cara com um elefante no meio da rua em pleno centro da cidade.
O Cerov branco como papel se agarrou em meu braço e disse quase sem voz:
- Alois, você tá vendo um elefante ali na rua?
- Engraçado eu ia te fazer a mesma pergunta.
Eu vou explicar o motivo do pânico ao ver o paquiderme, é que segundo os psiquiatras que descreviam os sintomas do delirium tremens na fase mais aguda dos sintomas o paciente passava dessa pra melhor, e o elefante era o maior bicho que existe já que os dinossauros estão extintos.
Então o Cerov respirou aliviado e disse:
- Graças a Deus, olha, eu nunca mais vou beber desse jeito.
Mas uma pergunta ainda não saía da minha cabeça, olhei fixamente no Cerov e perguntei relutante:
- E o coelho cor de rosa no bar, você viu?
- Ah, então tinha mesmo um coelho no bar!
- Tinha sim. E cor de rosa!
- Eu vou matar o maldito que fez essa brincadeira.
- É verdade isso não se faz aos amigos.
Mas como sempre acontece com quem bebe, no outro dia tudo já tinha voltado ao normal.

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